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SUD MENNUCCI

Reformador, sem dúvida, e como ele mesmo dissera, “robustecido de severa moral; [1] tinha todos os ingredientes espirituais para vir a ser um autêntico “Aristófanes de pinchaim” se o meio estivesse tão amadurecido e evoluido que comportasse a criação de um teatro de costumes e, mais que isso, de crítica de costumes.

A epoca era ingrata e Gama satisfez-se com o remoque escarninho de seu ditos maledicentes. E seu verso, mui frequentemente, justifica a classificação de Coelho Neto: “leve como a flecha, silva, vai direito ao alvo, crava-se e fica vibrando.” Vejamô-lo em outras arremetidas.

A moda lançara, no seu tempo, a saia-balão, a tremenda traquitana que nós, hoje, nos assombramos haja havido gente com a coragem de a carregar, mas que as mulheres, sempre dóceis e obedientes aos ditames daquilo que se apresenta como novidade do bem trajar, não se negaram a ostentar, principalmente nas festas e cerimonias solenes. A saia-balão foi uma das ogerizas de Gama. Andou com ela sempre ás testilhas e não lhe regateou nem chacotas, nem bufonerias. Dedicou-lhe uma de suas mais extensas composições: trinta e uma oitavas em tetras-sílabos, a que se intitula “O Balão”:

«Requeiro, ó Musa
do grande Urbino,
pincel divino,
d’alto rojão;

  1. Na carta-polêmica a Furtado de Mendonça, «Pela última vez”.