Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/218

Wikisource, a biblioteca livre
219

Nomes de semideoses soberanos,
Em quanto por o mundo exercitárão
Altos feitos, e quasi mais que humanos,
Com justissima causa se queixárão
Que não lhes respondêrão os mundanos
Favores do rumor justos e iguaes
A seus merecimentos immortaes.

Aquelle, que nos braços poderosos
Tirou a vida ao Tingitano Anteo,
E a quem os seus trabalhos tão famosos
Fizerão Cidadão do claro ceo;
Achou que a má tenção dos invejosos
Não se doma, senão despois que o véo
Se rompe corporal: porque na vida
Ninguem alcança a glória merecida.

Pois logo, se Barões tão excellentes
Forão do baixo vulgo molestados,
O vituperio vil das rudas gentes,
He louvor dos Reaes, e sublimados.
Quem no lume dos vossos Ascendentes
Poderá pôr os olhos, que abalados
Lhes não fiquem da luz, vendo os maiores
Vossos passados, Reis e Imperadores?

Quem verá aquelle Pae da Patria sua,
Açoute do soberbo Castelhano,
Que o duro jugo só, co’a espada nua,
Removeo do pescoço Lusitano,
Que não diga: Ó grão Nuno, a eterna tua
Memoria causará, se não m’engano,
Que qualquer teu menor tanto s’estime,
Que nunca possa ser senão sublime?