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SONETOS.
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CCXII.

Quem quizer ver d'amor huma excellencia
Onde sua fineza mais se apura,
Attente onde me põe minha ventura,
Porque de minha fé faça exp'riencia.

Onde lembranças mata a larga ausencia,
Em temeroso mar, em guerra dura,
A saudade alli'stá mais segura,
Quando risco maior corre a paciencia.

Mas ponha-me a Fortuna e o duro Fado,
Em morte, ou nojo, ou damno, ou perdição,
Ou em sublime e próspera ventura;

Ponha-me, em fim, em baixo ou alto estado;
Que até na dura morte me acharão
Na lingua o nome, e n'alma a vista pura.



CCXIII.

Los ojos que con blando movimiento
Al pasar enternecen la alma mia,
Si detener pudiera solo un dia,
Pudiera bien libraria de tormento.

Deste tan amoroso sentimiento
El importuno mal se acabaria;
Ó tambien su accidente creceria
Para acabar la vida en un momento.

Oh! si ya tu esquivez me permitiese
Que al ver, o Ninfa, tu semblante hermoso,
A manos de tus ojos yo muriese!
Oh si los detuvieras! cuan dichoso
Seria aquel momento en que me viese
Vida en ellos cobrar, cobrar reposo!