Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/153

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pleito o mérito dessas obras. Em outra parte enlear-nos-emos talvez nessa questão.

E demais, ignoro eu que lucro houvera - se ganha a demanda - em não querermos derramar nossa mão cheia de jóias nesse cofre mais abundante da literatura pátria: por causa de Durão, não podermos chamar Camões nosso! por causa, por causa de quem?... (De Alvarenga?) nos resignarmos a dizer estrangeiro o livro de sonetos de Bocage!

A literatura... crêmo-la nós um resultado das relações de um povo; é um efeito cuja causa são os sentimentos cordiais, muitas vezes gerais, de ordinário muito peculiares e algumas vezes até excêtricos à vista das outras, como em relação à poesia européia os poemas chins, à vista dos dramas Schillerianos as tragédias índias. As línguas, eis aí também o resultado das relações; e mais frisante é o exemplo dos dois reinos da Península Ibérica, a esse respeito, que começaram ambos com a mesma língua e cujos idiomas se mudaram e tornaram-se diversos em virtude da variedade de acidentes de civilização. As línguas são um dos meios, porventura a bitola mais exata para conhecer-se a oscilação do progresso e o caminhar das civilizações. Não nos demoraremos nesse tema, nem cansar-nos-emos num esgrimir no ar, como diz Fr. Luiz de Souza, a querermos demonstrar o que é claro.

Daí vê-se: os vezos e usanças das colônias do Brasil eram os mesmos dos portugueses; a língua foi sempre a