Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/223

Wikisource, a biblioteca livre

e sempre! Se chamas o amor o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela-eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loira, de cabelos castanhos ou negros. Tenho-as visto que fazem empalidecer-e meu peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria..

Parece-me então que se aquela mulher que me faz estremecer assim soltasse sua roupa de veludo e me deixasse por os lábios sobre seu seio um momento, eu morreria num desmaio de prazer! Mas depois desta vem outra- mais outra-e o amor se desfaz numa saudade que se desfaz no esquecimento. Como eu te disse, nunca amei.

O Desconhecido: Ter vinte anos e nunca ter amado! E para quando esperas o amor?

Macário: Não sei. Talvez eu ame quando estiver impotente!

O Desconhecido: E o que exigirias para a mulher de teus amores?

Macário: Pouca coisa. Beleza, virgindade, inocência, amor

O desconhecido (irônico):