Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/245

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vi uma forma de mulher pensativa. Era nua e seu corpo e perfeito como o de um anjo-mas era lívido como o mármore. Seus olhos eram vidrados, os lábios brancos, e as unhas roxeadas. Seu cabelo era loiro, mas tinha uns reflexos de branco. -Que dor desconhecida a gelara assim e lhe embranquecera os cabelos? não sei. Ela se erguia às vezes, cambaleando, estremecendo suas pernas indecisas, como uma criança que tirita;-e se perdia nas trevas. Eu a segui. Caminhamos longo tempo num chão pantanoso

Satan: E tu a viste parar numa torrente que transbordava de cadáveres-tomá-los um por um nos braços sem sangue, apertar se gelada naqueles seios de gelo-, revolver-se, tremer, arquejar-e erguer-se depois sempre com um sorriso amargo.

Macário: Quem era essa mulher?

Satan: Era um anjo. Há cinco mil anos que ela tem o corpo da mulher e o anátema de uma virgindade eterna. Tem todas as sedes, todos os apetites lascivos, mas não pode amar. Todos aqueles em que ela toca se gelam. Repousou o seu seio, roçou suas faces em muitas virgens e prostitutas, em muitos velhos e crianças-bateu a todas as portas da criação, estendeu-se em todos os leitos e com ela o silêncio... Essa estátua ambulante é quem