Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/337

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— Nunca — disse eu a custo e tremendo.

— Pois bem — esse infame desonrou o pobre velho: traiu-o como Judas ao Cristo.

— Mestre, perdão!

— Perdão! E perdoou o malvado ao pobre coração do velho?

— Piedade!

— E teve ele dó da virgem, da desonra, da infanticida?

— Perdão! — e perdoou o malvado ao pobre co-ração do velho?

— Piedade!

— E teve ele dó da virgem, da desonra, da infanticida?

— Ah! — gritei.

— Que tens? conheces o criminoso?

A voz de escárnio dele me abafava.

— Vês, pois, Gennaro— disse ele mudando de tom — , se houvesse um castigo pior que a morte, eu to daria. Olha esse despenhadeiro! E medonho! se o visses de dia. teus olhos se escureceriam e ai rolarias talvez — de vertigem! E um túmulo seguro: e guardara o segredo, como um peito o punhal. Só os corvos irão lá ver-te, só os corvos e os vermes. E pois, se tens ainda no coração maldito um remorso, reza tua ultima oração: mas seja breve. O algoz espera a vitima: a hiena tem fome de cadáver...

Eu estava ali pendente junto a morte. Tinha só a escolher o suicídio ou ser assassinado. Matar o velho era impossível. Uma luta entre mim e ele fora insana. Ele era robusto, a sua estatura alta, seus braços musculosos me quebrariam como o vendaval rebenta um ramo seco. Demais, ele estava armado. Eu — eu era uma