Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/344

Wikisource, a biblioteca livre

de D. Juan venha a poesia ainda passar-te um beijo!

— Ride, sim! misérrimos! que não compreendeis o que porventura vai de incêndio por aqueles lábios de Lovelace e como arqueja o amor sob as roupas gotejantes de chuvas de D. Juan — o libertino! Insano, que nunca sonhastes Lovelace sem sua mascara talvez chorando Clarisse Harlowe, pobre anjo, cujas asas brancas ele ia desbotar maldizendo essa fatalidade que fez do amor uma infâmia e um crime. Mil vezes insanos que nunca sonhastes o Espanhol acordando no lupanar, passando a mão pela fronte, e rugindo de remorso e saudade ao lembrar tantas visões alvas do passado!

— Bravo! bravo!

— Poesia! poesia! — murmurou Bertram.

— Poesia! por que pronunciar-lhe a virgem casta o nome santo como um mistério, no lodo escuro da taverna? Por que lembrá-la a estrela do amor a luz do lampião da crápula? Poesia! sabeis o que e a poesia?

— Meio cento de palavras sonoras e vãs que um pugilo de homens pálidos entende, uma escada de sons e harmonias que aquelas almas loucas parecem idéias e lhes despertam ilusões como a lua as sombras Isto no que se chama os poetas. Agora, no ideal, na mulher, o ressaibo do ultimo romance, o delírio e a paixão da ultima heroína de novela, e o presente incerto e vago de um gozo místico, pelo qual a virgem morre de volúpia, sem saber por que...