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VARIAÇÃO NO ESTADO SELVAGEM
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Alphonse de Candolle e alguns outros naturalistas demonstraram que as plantas tendo um habitat muito extenso têm ordinàriamente variedades. Isto é perfeitamente compreensível, porque estas plantas estão expostas a diversas condições físicas, e encontram-se em concorrência (o que, como vamos ver mais adiante, é igualmente importante ou mesmo mais importante ainda) com diferentes séries de seres organizados. Todavia, os nossos quadros mostram por outro lado que, em todo o país limitado, as espécies mais comuns, isto é, aquelas que têm maior número de indivíduos e os mais espalhados no seu próprio país (consideração diferente da de habitat considerável e, até certo ponto, da de uma espécie comum), oferecem, as mais das vezes, variedades assaz acentuadas para que delas se faça menção nas obras sobre botânica. Pode, por isso, dizer-se que as espécies que têm um habitat considerável, que são as mais espalhadas no seu país natal, e a que pertencem o maior número de indivíduos, são as espécies florescentes ou espécies dominantes, como poderia chamar-se-lhes, e são essas que produzem as mais das vezes variedades tão acentuadas que as considero como espécies nascentes. Poderiam, talvez, prever-se estes resultados; em verdade, as variedades, a fim de tornar-se permanentes, têm necessàriamente de lutar contra os outros habitantes do mesmo país; ora as espécies que dominam já são as mais próprias a produzir descendentes, que, posto que modificados num certo grau, herdam ainda superioridades que permitem a seus pais vencer os concorrentes. Diga-se de passagem que estas notas sobre o predomínio somente se aplicam às formas que entram em concorrência com outras formas, e, mais especialmente, aos membros de um mesmo género ou de uma mesma classe tendo hábitos quase semelhantes. Quanto ao número de indivíduos, a comparação, claro está, aplica-se somente aos membros de um mesmo grupo. Pode dizer-se que uma planta domina se é muito espalhada, ou se o número dos indivíduos que comporta é mais considerável que o de outras plantas do mesmo país vivendo em condições quase análogas. Uma tal planta não é menos dominante porque algumas confervas aquáticas ou alguns cogumelos parasitas têm um maior número de indivíduos e são mais geralmente espalhados; mas, se uma espécie de confervas ou de cogumelos parasitas ultrapassa as espécies vizinhas do ponto de vista que acabamos de indicar, será uma espécie dominante na sua própria classe.