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que elle designava, apontando para a extremidade da rua em que iam entrar.

Era Bertha.

A filha de Thomé da Povoa acabára de ajudar a pôr á cabeça de uma rapariguita aldeã o ultimo feixe de cannas de milho que os segadores haviam deixado no campo e ficára-a seguindo com a vista, tão attenta que nem deu pelos recem-chegados.

— Vejam que figura de fada — murmurou Mauricio para os primos. — É a Ruth da escriptura.

— Sim, a figura temos visto, agora quero vêr-lhe a cara — disse o padre; e acompanhado pelo mano bacharel, dirigiu-se para Bertha.

Mauricio, surprendido por este passo, que não esperára, seguiu-os para conter-lhes a brutal galanteria.

Bertha, ouvindo passos, voltou-se, e ao reconhecer os tres rapazes, não reprimiu um movimento de assustada surpreza, o qual porém se desvaneceu, reparando que Mauricio era um d'elles.

Todos se descobriram, cortejando Bertha.

O padre, fitando impertinentemente os olhos n'ella, principiou:

— Minha senhora, não repare n'esta invasão de territorio. Mas quem teve a culpa foi aqui o primo Mauricio. Fallou-nos com tal enthusiasmo da gentil filha do nosso velho amigo Thomé, que nós tomamos a resolução de vir admiral-a e cumprimental-a. E aqui estamos.

Bertha córou intensamente perante a grosseira sem-ceremonia do padre, e dirigiu a Mauricio um olhar, em que se fazia uma interrogação e se formulava uma censura.

Mauricio respondeu a este olhar, dizendo em tom de irritado:

— Desculpe, minha senhora, as maneiras pouco delicadas de meu primo. É um javali silvestre que não sabe amaciar as sêdas.

O mano bacharel soltou uma gargalhada, quasi tão grosseira como a apresentação do padre, e apimentou-a com a expressão de igual delicadeza:

— Ora toma! apara lá esse peão á unha! Ah! ah! ah!