Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/155

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que andam por ahi a zunir aos ouvidos das raparigas e a fazel-as doidas, Bertha sabe bem o que elles valem... mas, se por acaso a importunarem muito... eu sei como se dá cabo de um vespeiro.

E fallando Thomé da Povoa não ficára immovel, mas pozera-se naturalmente em caminho da porta, e os tres seguiam-n'o, sem fazer observação alguma.

Só quando o viram parar no portão é que perceberam que o lavrador como que tacitamente os convidava para sahirem.

O padre não pôde deixar sem uma reflexão este procedimento.

— Agradecemos, Thomé, o incommodo que teve a ensinar-nos o caminho da porta para sahirmos.

— Os lavradores da nossa terra teem estes excessos de hospitalidade — secundou o doutor.

Thomé córou e respondeu com certa confusão:

— A minha cabeça!... Desculpem. Isto em mim foi distracção. Quando a gente não está bem em si, faz, sem reparar, coisas que muitas vezes lhe podem estar na vontade, mas que por delicadeza não faria, se pensasse melhor. Queiram desculpar.

— Está desculpado. Nós tambem não tinhamos mais que fazer aqui. O fim da nossa visita estava preenchido.

— Sim, tambem me quiz parecer isso.

— Adeus, Thomé — bradou o doutor — Deixamol-o entregue á sua vida patriarchal.

— E está um verdadeiro patriarcha, este bonacheirão do Thomé — disse o padre, batendo familiarmente no hombro do lavrador.

— Bonacheirão? — repetiu Thomé, encolhendo os hombros e com um meio sorriso — Isso é conforme. Ás vezes... Ahi está que, sendo eu amigo do mestre-escóla, como sou e ha tantos annos, estive ha mezes para o esmagar. E sabem porquê? Porque passava eu por a escóla e ouvi chorar uma criança, e pareceu-me que era o meu pequeno; não me socegou o coração sem que me affirmasse se era elle ou não. Entrei e vi o desalmado do Zé Domingues que m'o desancava sem dó nem piedade. Escureceu-se-me a vista, entrei furioso por alli