Em uma das seguintes madrugadas foi Jorge sobresaltadamente acordado pelo velho jardineiro, que depois das ultimas reformas estava empregado no serviço interno da casa. O homem tinha uns ares de espantado, como se viera a communicar a noticia de um incendio.
— Que temos? — perguntou Jorge, sentando-se inquieto no leito.
— É que não tarda ahi a snr.ª baroneza. Já estão lá em baixo umas bagagens e uns criados, e... não está nada preparado.
— Cuidei que era outra coisa. E o que querias tu que estivesse preparado?
— Ora pois então? Sempre é uma pessoa... Lá o padre já deu ordem para se ir pedir a baixella aos...
— Não se pede coisa alguma. Ahi principia o frei Januario a fazer das suas. Dize-lhe que deixe tudo ao meu cuidado. Que se não estafe, nem afflija, que não é necessario.
— Mas... olhe lá, snr. Jorge! O fidalgo mesmo não ha de gostar...
— Faze o que eu te digo. Isso em ti, a fallar a verdade, até me admira. Não parece franqueza de soldado. Para occultar aos olhos de minha prima a nossa pobreza, que não é vergonha nenhuma, querias que fosse descobrir ás familias que teem baixellas, a nossa vaidade, que essa, sim, seria uma vergonha? Não estou resolvido a fazel-o.