— Qual foi?
O padre, ao ouvir as palavras do irmão, deu um salto para sentar-se na cama, e preparando tambem um cigarro, disse, fitando Mauricio com um sorriso alvar:
— Olha lá, ó Chico. Vê como contas a coisa, porque o Mauricio é nervoso; não sei se sabes.
— Mas de que se tracta?
— De um caso muito engraçado. Rimos a perder. Mas ainda havemos de rir mais, porque a historia promette dar de si.
O padre, meio estendido pela cama fóra para pedir lume ao irmão, confirmou o dito d'este com um gesto e um grunhido.
— Mas digam lá o que foi — insistia Mauricio.
— Hontem á noite — principiou o doutor — fui eu aqui com o Lourenço á espadelada do Martinho. Aquillo não esteve de todo mau. Bem boas raparigas, e a luz conveniente. Mas, alli pelas onze horas, appareceram uns apaixonados armados de varapaus, e com uns certos modos, que principiaram a fazer ferver-me o sangue.
— Eram os mesmos da feira do mez passado — acudiu o padre — mal fiz eu em não ter quebrado os ossos ao Gaudencio, quando o deixei atordoado na estrada.
— O certo é — proseguiu o mano doutor — que os homens começaram a fazer-se finos, e eu que vi o Lourenço já a fumegar, previ logo o caldo entornado e fui procurar o marmeleiro que deixára atraz da porta, para o que desse e viesse.
— Não era preciso. Para aquelles basto eu só — annotou o padre, sugando com força o cigarro, que teimava em não arder.
— Meu dito, meu feito — continuou o outro — nós a sahirmos e elles comnosco. O Lourenço pôz logo dois fóra do combate; eu arquei com o terceiro, que me derreou o braço esquerdo, mas a quem escangalhei a cabeça; o ultimo fugiu-nos. Era o João do Pinhão.
O padre interveio:
— Eu, que lhe ando com sêde, disse logo para o Chico: «Vamos d'aqui cortar-lhe o caminho e dar-lhe uma lição.» E tomamos pela quelha do regedor.