perar encontrar em ti um defensor e não um calumniador. Ordeno-te silencio em nome de alguns restos de honra, que ainda te deixassem intacta as companhias devassas que frequentas.
— Que é lá isso, priminho, que é lá isso? — acudiram immediatamente os dois manos.
Jorge não se intimidou.
— Não me assustam as suas ameaças. Sei agora o que significa esta espionagem e aquellas gargalhadas cynicas e alvares de ha pouco. Cabe-lhes bem o papel degradante que desempenham aqui, e nem é de estranhar o conceito que formam das intenções dos outros de que julgam pelas suas. O que lamento é vêr-te associado a esta empreza, Mauricio, porque, faço justiça ao teu caracter, deve repugnar-te intimamente o passo que déste.
— Em vez de sermões, priminho, não acha que seria melhor explicar-nos o que veio fazer a horas mortas a esta casa?
— Não sinto a necessidade de explicar as minhas acções diante de taes juizes. Pouco me importa a estima em que teem a minha reputação os senhores do Cruzeiro. Resignar-se-hão portanto a prescindirem das explicações que pedem.
Os dois riram-se maliciosamente. Jorge proseguiu:
— Entendo esse riso. Conheço-os. Sei que depois da espionagem se segue a calumnia; mas o meu desprezo é muito grande para transigir. Calumniem.
— Ora essa! Nós sabemos guardar um segredo. Socega.
— Sei qual é o alimento com que se nutre a sua ociosidade. Não importa. Á vontade, meus senhores, teem a estrada livre e contem que não serei eu que os estorvo n'aquella que costumam seguir, porque não a frequento.
Dizendo isto, deu alguns passos para se afastar; depois, voltando-se para Mauricio:
— Repara que já desceste o primeiro degrau da infamia; espiaste; agora vê se desces o segundo, calumniando. Ha n'aquella casa uma familia tranquilla e respeitada, ajuda agora esta gente a manchal-a de lama,