Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/274

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mais nobre, rnais digna de si, se ousa a fazer-nos bem, apesar do orgulho que lh'o rejeita, sem se lhe importar que um bem seja apparente para que os outros nos vejam humilhados, então deixo ao seu juizo resolver se este é o melhor caminho que tem a seguir.

Thomé da Povoa ouviu tudo isto com os olhos no chão, apertando o labio inferior entre o polex e o index e balanceando lentamente com o corpo.

Depois que Jorge acabou de fallar, permaneceu assim ainda por algum tempo, e acabou por dizer:

— Bem; visto isso desisto. Engulirei os meus protestos, conforme podér. Não digo que não tem razão, acho até que a tem. Quando me resolvi a isto, pensava só no fidalgo, não pensava no snr. Jorge... Agora vejo que fui muito apressado. Muito bem, farei por me resignar. Lá me custa, mas...

— Não lhe peço que desista da sua vingança. Quero tambem que um dia a verdade obrigue meu pae a reconhecer que a nobreza não está só nos pergaminhos e que a alliança com um homem honrado honra sempre quem a contrahe.

Thomé já tinha lagrimas nos olhos, ao apertar a mão a Jorge.

— Peco-lhe até que continue o seu auxilio, sem o qual eu nada faria, e até vou indicar-lhe um genero de serviços, que espero dever-lhe.

— Falle, falle, snr. Jorge, o que o senhor de mim não conseguir, ninguem consegue.

— Ha muito que eu desejo ir ao Porto. A especie de exilio, a que meu pae me condemnou, facilita-me agora essa empreza. Queria conversar directamente com os nossos advogados na demanda do Casal do Reguengo. Parece-me que ha circumstancias de valor que no processo não se tem feito sentir devidamente. Depois aquelle documento que lhe mostrei não me sahe da ideia. Emfim, póde ser uma illusão minha, mas tenho com tanto afinco estudado a questão, que me parece que vejo claro n'ella. E como sabe, Thomé, se ella se nos resolvesse favoravelmente era meia victoria ganha.