Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/310

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jasinhas d'esses taes, mesmo ao suave calor da fogueira patriarchal?

— E quem me impediria de os seguir tambem? — disse Mauricio contrariado. — N'esses caminhos que diz não é força progredir solitario. O apoio de um coração...

A baroneza abanou a cabeça em signal de duvida, dizendo:

— Desengana-te, Mauricio, se ainda te sorri a vida da grande sociedade, não procures a companhia de corações como o de Bertha.

— Porque não?

— Os corações como o de Bertha precisam do calor suave da vida de familia para rescenderem o grato perfume do seu amor. Para um homem a quem ainda attrahem as luctas da vida e as lides da gloria, não é das mais adequadas companhias a d'estas mulheres extremosas e modestas, que sómente se satisfazem com affectos, e cujo amor não se nutre da gloria do objecto que amam, mas exclusivamente do amor que d'elle exigem. Almas que o ciume desalenta, que a ausencia definha, não são para companheiras d'aquelles homens. Se um dos taes mais imprudente liga um d'estes corações ao seu destino, ou o martyrisa, cedendo aos proprios instinctos de gloria, ou sacrificando-lh'os, tortura-se, e a tortura reflecte-se sobre essas almas amoraveis, que a adivinham.

— E poderá ser verdadeiro um amor que não tenha essas qualidades que diz?

— Póde. Pois não póde! É preciso que evites, Mauricio, o preconceito que tem muita gente de que tudo é falso e mau nos brilhantes circulos sociaes. Não é. Lá ha tambem amores e affeições verdadeiras, podes crêl-o, mas, nascidas e creadas em condições diversas, vivem e resistem a ventos que definham as outras. Uma mulher d'aquelle mundo, sem que deixe de amar seu marido, não aspira a monopolisal-o para o seu amor. Pelo contrario, deseja que elle desempenhe a sua missão na sociedade. Com a gloria que ahi adquirir, se illumina ella tambem, e em vez de o reter na obscuridade do