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Custava-lhe apenas ter de renunciar aos fulgores da capital, a que se habituára e que amava com toda a paixão de uma mulher da moda; mas confiava em que o seu bom senso e os subsequentes cuidados de familia lhe suavisariam o sacrificio. Tractando porém mais de perto com o primo, comprehendeu que devia desistir do seu projecto.

Jorge pareceu-lhe incapaz de se apaixonar; e com certeza, não a amando, não se resolveria a aceitar a mão que ella lhe offerecesse, mórmente por levar comsigo os recursos que o poderiam auxiliar na sua nobre empreza.

Gabriella abandonou pois a ideia que tivera. Em Mauricio não pensára ao principio. Achava-o tão leviano, que, como ella dizia, não podia lembrar-se seriamente de fazer d'elle um marido. Agora porém, notando a subita impressão que occasionalmente lhe produzira, e cujos effeitos duravam e progrediam, a baroneza principiou a encarar o caso debaixo de differente luz.

Se Mauricio se apaixonasse por ella, ser-lhe-ia facil fazêl-o partir para Lisboa e vencer a repugnancia que elle parecia oppôr a abandonar a aldeia justamente na occasião em que a resistencia do pae havia cedido.

Se, depois de deixar tomar maior incremento a este novo capricho de Mauricio, ella subitamente partisse para Lisboa, sem duvida que o arrastaria atraz de si. O resto fal-o-iam as seducções da capital.

Para conseguir este resultado, julgou pois Gabriella que não devia apagar aquelle fogo que principiava a atear-se no inflammavel coração do primo; lavareda rapida e fugaz, que importava? com tanto que durasse até extinguir a outra que lá ardia.

E se durasse mais? Quem sabe? Talvez que o primeiro pensamento de Gabriella se podésse realisar com uma variante. Mauricio não era Jorge. O caracter voluvel e inconstante do filho mais novo de D. Luiz não o garantia como um modêlo de maridos. Mas a baroneza, segundo elle proprio dissera ao primo, não era d'estas mulheres exigentes que zelam a posse de todos os pen-