só por esse olhar elles nos accusem, mentalmente pelo menos, de estouvadas, e o resultado d'isto é que não olhamos para elles.
Bertha sorria, sem responder.
— Conhece ha muito esta familia? — perguntou a baroneza.
— De pequena. Brincamos muitas vezes, eu, Beatriz e todos elles na Casa Mourisca.
— E Jorge era então já assim sisudo?
— Foi sempre mais ajuizado do que as crianças da sua idade.
— É um rapaz singular. Já tenho pensado em que era preciso casal-o, porque dará um excellente chefe de familia. O essencial é passar em claro os tramites de um galanteio, porque para isso é que elle não é.
Bertha nada disse ainda.
A baroneza proseguiu:
— Por isso é necessario que os estranhos tractem d'isso e escolham por elle.
Bertha aventurou timidamente algumas palavras.
— E aceitará elle a intervenção em um acto tão essencial da sua vida? Elle que está costumado a olhar em pessoa por os negocios que lhe dizem respeito?
— Isso é verdade, mas contentar-se-ha em fallar directamente com a noiva que lhe propozerem e dizer-lhe com aquella natural franqueza todo o seu pensamento, e feito isto póde a escolhida ter a certeza de que terá n'elle um marido leal e affeiçoado, talvez sem grandes requebros de amante, mas com a verdadeira estima de um amigo.
— De certo que a pessoa a quem o snr. Jorge estender a mão póde confiar n'ella como na de um pae.
Bertha, julgando dizer estas palavras naturalmente, não pôde tirar-lhes um tremor de commoção, que a baroneza notou.
Bertha foi quem primeiro rompeu o silencio, que se seguiu a estas palavras:
— Mas dizia a snr.ª baroneza que viera procurar-me?