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OS MAIAS
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por isso que não tivera a coragem de lhe escrever... Emfim deviam ser fortes, e não se vêrem pelo menos durante alguns mezes... Depois, pouco a pouco, o que era capricho fragil, cheio de inquietação, tornar-se-hia uma boa amizade, bem segura e bem duradoura.

Calou-se; e então, no silencio, sentiu que ella, cahida para o canto do coupé, como uma coisa miseravel e meio morta, encolhida no seu véo, estava chorando baixo.

Foi um momento intoleravel. Ella chorava sem violencia, mansamente, com um chôro lento, que parecia não dever findar. E Carlos só achava esta palavra banal e desenxabida:

— Que tolice, que tolice!

Vinham rodando ao comprido das casas, por diante da fabrica do gaz. Um americano passou alumiado, com senhoras vestidas de claro. N’aquella noite de verão e d’estrellas, havia gente vagueando tranquillamente entre as arvores. Ella continuava a chorar.

Aquelle pranto triste, lento, correndo a seu lado, começou a commovel-o; e ao mesmo tempo quasi lhe queria mal por ella não reter essas lagrimas infindaveis que laceravam o seu coração... E elle que estava tão tranquillo, no Ramalhete, na sua poltrona, sorrindo a tudo, n’uma deliciosa lassidão!

Tomou-lhe a mão, querendo calmal-a, apiedado, e já impaciente.