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OS MAIAS
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casa estranha. Dentro o corredor estava deserto, com a sua lampada mourisca alumiando as panoplias de touros... Alli ficou. Melanie, com o chale na mão, veio dizer-lhe que a senhora estava na sala das tapeçarias...

Carlos entrou.

Lá estava, ainda de capa, esperando de pé, palida, com toda a alma concentrada nos olhos que refulgiam entre as lagrimas. E correu para elle, arrebatou-lhe as mãos, sem poder fallar, soluçando, tremendo toda.

Na sua terrivel perturbação, Carlos achava só esta palavra, melancolicamente estupida:

— Não sei porque chora, não sei, não há razão para chorar...

Ella pôde emfim balbuciar:

— Escuta-me, pelo amor de Deus! não digas nada, deixa contar-te... Eu ia lá, tinha mandado Melanie por uma carruagem. Ia vêr-te... Nunca tive a coragem de te dizer! Fiz mal, foi horrivel... Mas escuta, não digas nada ainda, perdôa, que eu não tenho culpa!

De novo os soluços a suffocaram. E cahiu ao canto do sofá, n’um chôro brusco e nervoso, que a sacudia toda, lhe fazia rolar sobre os hombros os cabellos mal atados.

Carlos ficára diante d’ella, immovel. O seu coração parecia parado de surpreza e de duvida, sem força para desafogar. Apenas agora sentia quanto seria baixo e brutal deixar-lhe o cheque — que ti-