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OS MAIAS
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n’esse dia em que elle farejára pelas estradas silenciosas, como um cão abandonado, procurando Maria!... Isto tornou-lhe mais odioso o snr. Palma. Em cima entraram n’um cubiculo, com uma janella gradeada por onde resvalava uma luz suja de saguão. Na toalha da mesa, salpicada de gordura e vinho, alguns pratos rodeavam um galheteiro que tinha moscas no azeite. O snr. Palma bateu as palmas, mandou vir genebra. Depois dando um grande puxão ás calças:

— Pois eu espero que me acho aqui entre cavalheiros. Como eu já disse cá ao amigo Ega, em todo este negocio...

Carlos atalhou-o, tocando muito significativamente com a ponteira da bengala na borda da mesa.

— Vamos ao ponto essencial... Quanto quer o snr. Palma por me dizer quem lhe encommendou o artigo da Corneta?

— Dizer quem o encommendou, e proval-o! acudiu o Ega, que examinava na parede uma gravura onde havia mulheres núas á beira d’agua. Não nos basta o nome... O amigo Palma, está claro, é de toda a confiança... Mas emfim, que diabo, não é natural que nós acreditassemos se o amigo nos dissesse que tinha sido o snr. D. Luiz de Bragança!

Palma encolheu os hombros. Está visto que havia de dar provas. Elle podia ter outros defeitos, trapalhão não! Em negocios era todo franqueza