Página:Os Maias - Volume 2.pdf/393

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
383

sorriso que lhe mostrava os dentes maus, sentindo-se o poeta da Democracia, consagrado, ungido pelo triumpho, com a inesperada missão de libertar almas! D. Maria da Cunha puxou-lhe pela manga quando elle passou, para murmurar, encantada, que achára — «lindissimo, lindissimo». E o poeta, estonteado, exclamou: «Maria, é necessario luz!» Telles da Gama veio bater-lhe nas costas affirmando-lhe que «piára esplendidamente». E Alencar, inteiramente perdido, balbuciou: «Sursum corda, meu Telles, sursum corda

Ega no emtanto, através do tumulto, farejava buscando Carlos que desapparecera depois dos abraços ao Alencar. Taveira assegurou-lhe que Carlos passára para o botequim. Depois em baixo um garoto jurou que o snr. D. Carlos tomára uma tipoia e ia já virando o Chiado...

Ega ficou á porta hesitando se aturaria o resto do sarau. N’esse momento o Gouvarinho, trazendo a condessa pelo braço, descia rapidamente, com a face toda contrariada e sombria. O trintanario de ss. exc.as correu a chamar o coupé. E quando o Ega se acercou, sorrindo, para saber que impressão lhes deixára o grande triumpho democratico do Alencar — a profunda cólera do Gouvarinho escapou-se-lhe, mal contida, por entre os dentes cerrados:

— Versos admiraveis, mas indecentes!

O coupé avançou. Elle teve apenas tempo de rosnar ainda, surdamente, apertando a mão ao Ega: