Página:Os trabalhadores do mar.djvu/229

Wikisource, a biblioteca livre
— 221 —

— Rantaine, o senhor tem uma calça americana com duas algibeiras. N’uma dellas tem o seu relogio. Guarde-o.

— Obrigado, Sr. Clubin.

— Na outra ha uma caixinha de ferro batido, que abre e fecha por molas. É uma velha boceta de marinheiro. Tire-a do bolso, e atire-a para cá.

— Mas isto é um roubo!

— Póde chamar a guarda.

E Clubin fixou os olhos em Rantaine.

— Olhe, mess Clubin.... disse Rantaine dando um passo e estendendo a mão aberta.

Mess era uma lisonja.

— Fique onde está, Rantaine.

— Mess Clubin, arranjemos as cousas. Offereço-lhe metade.

Clubin executou um crusar de braços, mostrando a bocca do revolver.

— Rantaine, quem pensa que eu sou? Sou um homem honrado.

E acrescentou depois de uma pausa.

— Quero tudo.

Rantaine disse entre dentes:

— É temivel este.

Entretanto acenderam-se os olhos de Clubin. A voz tornou-se cortante como o aço. Disse elle:

— Creio que se engana. O seu nome é que é Roubo, o meu é Restituição. Ouça, Rantaine. Ha dez annos, sahio o senhor de Guernesey á noite tomando da caixa de uma sociedade cincoenta mil francos que lhe pertenciam, e esquecendo de lá deixar cincoenta mil francos que pertenciam a outro. Esses