Página:Os trabalhadores do mar.djvu/39

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Outra noite, vasando a maré, aconteceu tombar na praia, em frente da casa mal assombrada, uma carreta cheia de sargaço. Gilliatt receiou naturalmente ser chamado á justiça, pois atirou-se a levantar a carreta, pondo-lhe outra vez toda a carga que se espalhara no chão.

Uma menina da visinhança tinha muitos piolhos; Gilliatt foi a Saint-Pierre Port, trouxe de lá um unguento e esfregou a cabeça da pequena; tirou-lhe os piolhos, o que prova que foi elle quem lh’os deitou.

Sabe toda a gente que ha feitiço para fazer criar piolhos na cabeça dos outros.

Dizia-se que Gilliatt olhava para os poços, o que é perigoso quando é máo olhado; e o caso é que um dia, nos Arculons, a agua de um poço tornou-se doentia. A dona do poço disse a Gilliatt: veja esta agua. E apresentou-lhe um copo cheio. Gilliatt confessou. A agua está grossa, disse elle; é exacto. A boa mulher que desconfiava disse-lhe. Pois cure-a. Gilliatt perguntou-lhe se ella tinha algum curral, se o curral tinha esgoto, e se o rego do esgoto passava perto do poço. A boa mulher disse que sim. Gilliatt entrou no curral, desviou o rego do esgoto, e a agua do poço ficou boa. Ora, pensava a gente da terra, nenhum poço fica insalubre, nem é curado depois, sem motivo; a doença do poço não é natural; é difficil não acreditar que Gilliatt tenha enguiçado a agua.

De uma vez, tendo ido a Jersey, foi alojar-se em S. Clemente, em uma rua cujo nome quer dizer almas do outro mundo.

Nas aldeâs, colhem-se os indicios, comparam-se: o total faz a reputação de um homem.