Página:Os trabalhadores do mar.djvu/491

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grande natureza diffusa. Eolo harmonisa-se com Boreas. O accordo do elemento com o elemento é necessario. Distribuem entre si a tarefa. Ha impulsões para a vaga, para a nuvem, para o effluvio; a noite é um auxiliar; deve ser empregada. Ha bussolas para desviar, pharóes para apagar, estrellas para esconder. É preciso que o mar coopere. Todas as tempestades são precedidas de um murmurio. Por traz do horisonte ha o cochicho prévio dos furacões.

É o que se ouve, na obscuridade, ao longe, por cima do silencio assustado do mar.

Gilliatt ouvio esse chochichar tremendo. A phosphorescencia foi a primeira advertencia; o rumor foi a segunda.

Se existe o demonio Legião, esse demonio é o Vento, com certeza.

O vento é multiplo, mas o mar é um.

Dahi esta consequencia: toda tempestade é mixta. A unidade de ar o exige.

Abismo implica tempestade. O oceano inteiro está n’uma borrasca. A totalidade das suas forças entra em linha e toma parte nella. Uma vaga é o golphão de baixo; um tufão é o golphão de cima. Lutar com uma tempestade é lutar com o mar inteiro e o céo inteiro.

Messier, o homem da marinha, o astronomo pensativo da choça de Clerny, dizia: O vento de toda a parte está em todas as partes. Elle não acreditava nos ventos presos, mesmo nos mares fechados. Para elle não haviam ventos mediterraneos. Dizia que os conhecia na passagem. Affirmava que em tal dia,