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Peregrinaçoẽs de

nas mãos do antigo Albuquerque, lião do bramido eſpantoſo nas ondas do mar, ao poderoſo Rey das naçoẽs & pouos da India, & terra do graõ Portugal, o qual então nos prometeo que não quebrando os Rey deſte reyno eſta menagem de leais vaſſalos, ſe lhes obrigaua aos defender a todos de ſeus inimigos como ſenhor poderoſo que era. E ja que nos ate gora nunca quebramos eſta menagẽ, qual ſerá ſenhores a rezão, porq̃ não cumprireis com eſta obrigaçaõ, & verdade do voſſo Rey, ſabendo que por feu reſpeito nos toma eſte inimigo Achem a noſſa terra, dando por rezão que he o meu Rey taõ Portuguez, & tão Chriſtão corno ſe naſcera em Portugal? E mandandoues agora pedir q̃ lhe valhais neſta afronta, como verdadeyros amigos, vos eſcoſais de o fazerdes com rezoẽs de muyto pouca força, não montando mais o cabedal deſte ſocorro todo, para ſatisfaçaõ de noſſo deſejo, & ſegurança de nos eſtes inimigos não tomarem o reyno, que sò ate quarenta ou cinquenta Portugueſes com ſuas eſpingardas & armas, para nos enſinarem, & nos animarem em noſſos trabalhos, & quatro jarras de poluora, com duzentos pilouros de berço, & com eſte pouco, que he bem pouco em comparação do muyto q̃ vos fica, nos aueremos por muyto ſatisfeitos da voſſa amizade, & o noſſo Rey vos ficarà por iſſo muyto obrigado, paraque ſempre com muyta lealdade ſirua como eſcrauo catiuo ao Principe do grande Portugal, voſſo & noſſo ſenhor & Rey, da parte do qual, & em nome do meu vos requeiro ſenhores a ambos hũa & duas & cem vezes, que não deixeis de cũprir co que deueis, pois a importancia diſto que aquy publicamente vos peço, he terdes o reyno de Aarù por voſſo, & eſſa fortaleza de Malaca ſegura para a não ſenhorear eſte inirnigo Achem, como determina fazer, pelos meyos que ja para iſſo tẽ procurado, com ſe valer de muytas naçoẽs de gentes eſtranhas, que continuamente recolhe em ſua terra para eſte effeito. E porq̃ eſta noſſa lhe importa a elle mais que todas as outras para eſte ſeu danado propoſito, nola manda agora tomar, a fim de continuar neſte eſtreito com ſuas armadas, atè que de todo (como os ſeus publicamente ja dizem) vos tolha o comercio da droga de Banda, & Maluco, & o trato da nauegaçaõ dos mares da China, Sunda, Borneo, Timor, & Iapaõ, como temos ſabido pelo cõtrato que agora nouamente tem feito co Turco, por meyo do Baxà do Cayro, que para iſto tomou por ſeu valedor, o qual lhe tem dado grandes eſperanças de ajuda, como pelas cartas que eu trouxe tereis jo ſabido. E lembrouos eſte requerimento que em nome do meu Rey oje vos faço, pelo que cumpre ao ſeruiço do voſſo, da parte do qual vos torno outra vez de nouo a requerer, que pois agora podeis atalhar a eſte mal, que tão perto eſtà de parir o que tem cõcebido, o ſaçais, & não vos eſcuſeis hũ com dizer que ja acaba, & outro que

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