— 105 —
Algum tempo a tiverão sobre as aguas,
Como sereia bella,
Que abraça ternamente a onda amiga.
Então, abrindo a voz harmoniosa,
Não por chorar as suas fundas mágoas,
Mas por soltar a nota deliciosa
De uma canção antiga,
A pobre naufragada
De alegres sons enchia os ares tristes,
Como se alli não visse a sepultura,
Ou fosse alli creada.
Mas de subito as roupas embebidas
Da lympha calma e pura
Levão-lhe o corpo ao fundo da corrente,
Cortando-lhe no labio a voz e o canto.
As aguas homicidas,
Como a lage de um tumulo recente,
Fechárão-se; e sobre ellas.
Triste emblema de dôr e de saudade,
Forão nadando as ultimas capellas.