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Não a deixa apagar; prompto lhe lança
Oleo com que a alimente. Enrubescido
De ternura e desejo o rosto volve
Ao mancebo gentil. Baldado empenho!
Indifferente aos magicos encantos,
Celio contempla a moça. Olhar mais frio,
Ninguem deitou jamais a graças tantas.
Ella insiste; ele foge-lhe. Vexada,
A moça inclina languida a cabeça...
Tu nada vês, desapegado esposo,
Mas o amante vê tudo.

                        Clodia arranca
Uma rosa da fronte, e as folhas deita
Na taça que enche generoso vinho.
«Celio, um brinde aos amores!» diz, e entregalh’a.
O cortejado moço os olhos lança,
Não a Clodia, que a taça lhe offerece,
Mas a outra não menos afamada,
Dama de igual prosapia e eguaes campanhas,
E taça igual lhe acceita. Affronta é esta
Que á moça faz subir o sangue ás faces,
Aquelle sangue antigo, e raro, e illustre,
Que atravessou purissimo e sem mescla
A corrente dos tempos... Uma Clodia!
Tamanha injuria! Ai, não! mais que a vaidade,
Mais que o orgulho de raça, o que te peza,
O que te faz doer, viciosa dama,
É ver que um rival merece o zelo
Deste pimpão de amores e aventuras.
Pega na taça o nescio esposo e bebe,