Uma supposição falsa, quando as consequencias que d'ella decorrem, se desdobram cada vez mais, conduz, cedo ou tarde, ao absurdo e á contradicções palpaveis.
Durante o periodo cruciante da duvida — e este não foi curto — em que o fiel da balança oscillava ante mim em perfeita incerteza entre os pro e os contra; e quando todo e qualquer facto conduzindo á uma prompta decisão teria sido bem vindo, não tive o menor trabalho em avaliar quaesquer contradicções entre as consequencias fornecidas á classe dos crustaceos, pela theoria Darwinista. Pois eu não as encontrei, nem então nem depois. Aquellas que eu pensava ter achado, foram dissipadas em mais intima consideração ou, converteram-se actualmente em sustentaculos para a theoria de Darwin.
Nem, tanto quanto eu saiba, qualquer das consequencias necessarias das hypotheses de Darwin, foi provada, por quem quer que fosse, em clara e irreconciliavel contradição. E entretanto, visto como existem os mais profundos investigadores do reino animal entre os antagonistas de Darwin, parece que devia lhes ser facil esmagal-o, de ha muito, sob a massa das illações absurdas e contradictorias, se taes decorressem da sua theoria.
Á esta falta de contradicções demonstradas, eu penso que podemos attribuir, justamente, a mesma importancia á favor de Darwin que os seus antagonistas attribuiram á ausencia de formas intermediarias, entre as especies dos diversos sedimentos geologicos.
Independentemente de que as razões que Darwin deu da conservação de taes formas intermediarias, sejam apenas excepcionaes, a circumstancia por ultimo mencionada não será de grande significação, para todo aquelle que traçou o desenvolvimento de um animal, desde as larvas pescadas no oceano, e teve de procurar em vão, durante mezes e mesmo annos, por essas formas transicionaes que, apesar disso, veio a saber, formigavam em torno da sua pessoa, aos milhares.
Poucos exemplos mostrarão de que modo as contradicções podem surtir, em resultados necessarios das hypotheses Darwinistas.
Parece uma necessidade á todos os carangueijos que permanecem por longo tempo fóra d'agua (entretanto é sem consequencia para nós, aqui) a penetração do ar detrás para dentro da cavidade branchial. Agora, esses carangueijos que se tornaram mais ou menos alheiados á agua, pertencem ás mais diversas familias — ás Raninideas (Ranina), ás Eriphineas (Eriphia gonagra), aos Grapsoideos (Aratus, Sesarma etc.) aos Ocypodideos (Gelamus, Ocypoda) etc.; e a separação d'estas familias deve ser, sem duvida alguma, referida á um periodo muito mais primitivo do que o habito de desprezar a agua, n'alguns de seus membros. As modificações relativas á respiração aerea, por isso, não poderiam ser herdados de um antepassado commum e, quando muito, estar de accordo na sua construcção.
Se houvesse tal accordo, não referivel á semelhança accidental entre elles, esse teria de ser conduzido á balança, como peso contrario á correcção das vistas de Darwin.
Eu mostrarei, mais adiante, como o resultado neste caso, longe de apresentar taes contradicções, ficou na mais completa harmonia com o que poderia ser predito pela theoria de Darwin.
Um segundo exemplo. — Já estamos informados de quatro especies de Melita (Melita valida, M. setipes, M. anisochir e M. fresnelii) e eu posso addicionar uma quinta (fig. 1), nas quaes, o segundo par de patas supporta, em um lado, uma pequena mão de estructura commum e no outro, uma enorme pinça. Esta falta de symetria é algo de tão raro entre os Amphipodes e, a estructura da pinça differe tanto do que se vê no resto desta ordem e se assemelha, tão estreitamente, nas cinco especies que, se deve encaral-as, decididamente, como tendo partido de antepassados communs, pertencendo somente a ellas, entre as especies conhecidas. Mas, á uma dessas especies, Melita fresnelii, descoberta por Savigny no Egypto, dizem faltar o flagello secundario das antennas anteriores que occorre nos outros. Da fidelidade de todas as obras de Savigny, pouco se póde duvidar na correcção d'esse facto. Agora, se a presença ou ausencia do flagello secundario, significa o caracter generico que lhe é geralmente attribuido; ou se houve outras differenças importantes, entre Melita fresnelii e as outras especies acima mencionadas, capazes de fazer natural, a separação de M. fresnelii em um genero distincto e, deixar os outros unidos ao resto das especies de Melita — isto é, no sentido da theoria Darwinista: