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KOSMOS

uma corrente constante d'agua doce, passa por baixo da carapaça n'uma direcção de traz para diante, mantida, como no animal adulto, por um appendice foliaceo ou linguiforme do segundo par de maxillas (fig. 18). A addicção de finas particulas coloridas na agua, permitte devisar essa corrente mesmo em pequenas Zoeas.

FIG. 17 — Zoea do Carangueijo dos Pantanos (Cyclograpsus?) augm. 45 diametros.
FIG. 18 — Maxilla do 2º par da mesma especie, augm. 180 diametros.

As Zoeas dos carangueijos (fig. 17) deixam-se distinguir geralmente por longos processos espiniformes da carapaça. Um d'estes se projecta para cima do meio do dorso, um segundo para baixo, da parte anterior da cabeça e, frequentemente ha um mais curto em cada lado, junto dos angulos postero-inferiores da carapaça. Todos esses processos estão, comtudo, ausentes em Mysis, segundo Couch e em Eurynome, segundo Kinahan; e em uma terceira especie do mesmo grupo dos Oxyrhynchi (pertencente ou quasi alliado ao genero Achaeus) eu tambem achei sómente um desprezivel aculeo dorsal, emquanto que a parte anterior da cabeça e os lados estavam desarmados.

É este um outro exemplo nos avisando de ter cuidado nas deducções da analogia. Nada pareceria mais plausivel do que reportar á formação rostriforme da parte anterior da cabeça nos Oxyrhynchi ao processo frontal das Zoeas e, então, succede que os jovens dos Oxyrhynchi são, com effeito, totalmente destituidos de qualquer processo dessa natureza. As seguintes são peculiaridades mais importantes das Zoeas dos carangueijos, ainda que menos frizantes do que esses processos da carapaça que, em combinação com os grandes olhos, frequentemente lhes dão uma apparencia tão singular; — as antennas anteriores (interiores) são simples, não articuladas e providas na extremidade de dous ou tres filamentos olfactivos; as antennas posteriores (exteriores) correm frequentemente dentro de um processo espiniforme, notavelmente longo (“processo estyliforme„ Spence Bate), e teem, no lado externo, um appendice que é, ás vezes, muito pequeno (“processo esquamiforme„ de Spence Bate), correspondente á escama antennal dos Lagostins, [1] e os primeiros rudimentos do futuro flagellum é frequentemente já reconhecivel. De patas nadadoras (depois maxillipedes), sómente dous pares se acham presentes, o terceiro (e não o primeiro, como Spence Bate pensa) inteiramente ausente, ou, como os cinco pares de patas seguintes, apparecem apenas como pequenos botões. A cauda, de forma muito variavel, traz sempre tres pares de cerdas na sua margem posterior. As Zoeas dos carangueijos, commummente se mantém n'agua, de tal modo que o aculeo dorsal fica virado para cima, o abdomen curvo para diante, o ramo interno das patas nadadoras dirigida para fóra e o externo para fóra e para cima.

FIG. 9 — Cauda da Zoea de Pinnotheres.
FIG. 20 — " " " Sesarma.
FIG. 22 — " " " Xantho.
FIG. 23. — " " " especies desconhecidas.

Além d'isso, deve-se notar que as Zoeas dos carangueijos, assim como as das Porcellanae, do Tatuira e dos camarões e lagostins, são envolvidas, ao sahir do ovo, por uma membrana velando os processos da carapaça, as cerdas dos pés e as antennas e que ellas rompem esta membrana em poucas horas. Em Achaeus, eu observei que a cauda d'esta pelle larval primitiva, se assemelha á das larvas dos camarões e lagostins; e o mesmo parece succeder em Maia (veja-se Bell “Brit. Stalk-Eyed Crut„. pg. 44).

Tanto quanto pareçam differir á primeira vista, as Zoeas das Porcellanae (fig. 24) aproximam-se das dos verdadeiros carangueijos, muito estreitamente. As antennas, os orgãos da bocca e as patas nadadoras, exhibem a mesma estructura. Porém a cauda tem cinco pares de cerdas e o aculeo dorsal está ausente, enquanto que, ao contrario, o processo


  1. N'uma memoria sobre a metamorphose das Porcellanae eu escrevi erroneamente este appendice como "flagellum".