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de-lhe fazer lá tal perseguição que o levou á Cadêa do Limoeiro, onde jazeria por muito tempo, se não invocasse o poderoso valimento do novo Bispo Funchalense, D. Luiz Rodrigues Villares, [1]alma pia, verdadeiro contraste de seu antecessor.

Foi posto em liberdade; mas o resto de sua vida, salvo curto intervallo em que ía, como poeta, ganhando celebridade, foi uma longa cadêa d’infortúnios.

Antagonista do fanatismo que então reinava, foi perseguido pela Inquisição, gemendo, como Bocage, nos seus carceres, e ultimamente , pela segunda vez, no Limoeiro d'onde lhe conseguirão soltura os quinze famosos Sonetos com que soube tocar o animo do Monarca.

Já a este tempo o affligia a molestia fatal, que veda a quem a soffre dar a mâo d'amigo, tractar os seus similhantes ;[2] e, aborrido da vida, cançado de luctar com a adversidade, curtindo, longe dos seus, acerbas angustias, no meio de penosas privações, aos 34 annos d'idade, achou que devia cortar o fio da existência, consumando o que já tinha revelado ao seu amigo e bemfeitor Manoel José Moreira Pinto Baptista.[3]

Levantou a propria eça no silencio da noite; rodeou-se dos livros a que consagrava as longas horas d'insomnia; pôz á cabeceira os seus escriptos, e liban-

  1. Soneto — pag: 11.
  2. Pag. 146.
  3. pag: 66.