teriosa que lhe descerrou a boca, obstinadamente muda.
— Tio Cherne, começou, tartamudeando, eu vinha dizer-lhe...
— Acaba, homem, acudiu o outro, salivando, tens a lingua pregada ao céo da bôca?
Sim, eu vinha pedir-lhe... e o Silvestre hesitou, não se atrevendo a formular o audacioso desejo que alli o trouxera.
— Valha te Deus, volveu o Cherne, batendo-lhe
no hombro, tu acobardas-te de fallar commigo?
— Não é isso, tio Cherne, mas como o outro que diz, sim, vossemecê bem percebe...
— Percebo que és um pedaço d'asno, rematou o velho, soltando uma gargalhada.
— Pois lá vae, exclamou o Silvestre, desempcnando a estatura, como um homem disposto a affrontar um perigo mortal. Eu gosto da menina Severina e vinha perguntar-lhe sc seria do seu agrado que nos casassemos.
O pedido não surprehendeu o Manuel Cherne. Havia muito que clle notára a sympathia do Silvestre. Por vezes, sorrira-lhc a idéa d'essa união, que respondia aos seus mais secretos votos.
Com tanto que a rapariga não se opponha, concluia, ponderando nas exquisitices da filha.
Ergueu-se de golpe c abraçando o Silvestre, prometteu-lhe que fallaria á Severina.
Ella ouviu o pae e com o seu meigo sorriso doloroso respondeu, que casaria com o Silvestre, se tal era a vontade de ambos.
Aprazou-se a ceremonia para o mez de S. João.
O Silvestre parecia um ebrio, cambaleava, fallava só, ria scin motivo e tinha infantilidades que