— Então querem dois quartos?
A companheira do inglês, até aí muda, respondeu com calor pouco britânico:
— Oh! sim, senhora!
Mme. Barbosa prontificou-se:
— Tenho, além deste quarto, um outro.
— Where? perguntou o inglês.
— Como? fez a proprietária.
— Onde? traduziu miss.
— Ali.
E Mme. Barbosa indicou uma porta quase fronteira à do aposento que mostrara em primeiro lugar. Os olhos do inglês fuzilaram bruscamente de alegria e, nos de miss, houve um relâmpago de satisfação. A um tempo, exclamaram:
— Muito bom!
— All right!
Examinaram com pressa os aposentos e já se dispunham a descer quando, no patamar da escada, se encontraram com a Angélica. A preta olhou-os demorada e fixamente, com espanto e respeito; parou extática, como em face de uma visão radiante. A luz mortiça da clarabóia empoeirada, ela viu, naqueles rostos muito alvos, naqueles cabelos louros, naqueles olhos azuis, de um azul tão doce e imaterial, santos, gênios, alguma cousa de oratório, de igreja, da mitologia de suas crenças híbridas e ainda selvagens.
Ao fim de instantes de muda contemplação, continuou o seu caminho, carregando baldes, jarros, moringues, inebriada na visão, enquanto a sua patroa e os ingleses iniciaram a descida, durante a qual não se cansou Mme. Barbosa de elogiar o sossego e o respeito que havia na sua casa. Mister dizia - yes; e miss também - yes.
Prometeram mandar as malas no dia seguinte e a dona da pensão, tão comovida e honrada com a