Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/107

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barbas veneráveis. Logo que entrou, com o chapéu ainda à cabeça, um largo chapéu d'abas moles, o guarda-chuva debaixo do braço, estendeu as mãos ambas a Dona Júlia e a Paulo e, de olhos nela, perguntou, depois dum aceno da cabeça, franzindo a fronte: "Então que foi isso?" Dona Júlia, desabando os braços, encolhendo os ombros, baixou a cabeça e o velho, deixando o chapéu sobre a mesa, sentou-se declarando - "que só naquela manhã recebera a carta que ela lhe escrevera". E perguntou: "Mas quando foi?"

— No sábado, à noite, compadre.

O velho meneou com a cabeça; e, voltando-se para o estudante, indagou:

— Já foste à polícia?

— Na mesma noite.

— Então?

— Ora! o senhor bem sabe como aquilo é. Prometeram fazer tudo e ficou nisso...

— E não voltaste?

— Para quê?

— Como para quê? Que diabo, rapaz! Hás de ser sempre o mesmo descansado? Então é assim? A gente move-se, homem de Deus; e, se tu és o primeiro a mostrar indiferença pela causa, como queres que os estranhos se interessem por ela?

Dona Júlia, sentindo-se protegida, ousou falar.

— Eu disse isto mesmo, compadre.

— Aí vem a senhora... Eu fiz tudo: fui à polícia na mesma noite, com uma tempestade medonha,