Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/142

Wikisource, a biblioteca livre

corações, vozes ternas cantavam em uníssono suavíssimo. Cães ladravam na montanha, onde as casas, muito brancas, como de puro mármore, destacavam-se da verdura que resplandecia alvejante e pelo céu limpo, serena, a lua caminhava magnífica, toda de neve.

Era tarde quando o estudante pediu licença para retirar-se, sentindo-se mal; todavia aceitou o último cálice que lhe ofereceu a mulata.

— A noite está fresca, não faz mal.

Bebeu a custo, arrevessando; apanhou o chapéu e a bengala e despediu-se. Ritinha pediu desculpas do jantar e Mamede quis acompanhá-lo ao portão da estalagem e, sem deixar o violão, lá foi com ele, guiando-o. Ao despedir-se deteve-o e, baixinho, num tom de mistério ofereceu-se para levá-lo a casa. Ele recusou.

O ar fresco da noite, longe de aliviá-lo, como que mais o excitava. O atordoamento tornava-se mais forte: por vezes cambaleava, ia de encontro às paredes. As pernas. ora amoleciam, bambas, ora pareciam retesadas e duras. Ia devagar, sentindo náuseas, a boca saburrosa, os olhos nublados. Caminhava instintivamente, dobrando esquinas - ora pela calçada, ora pelo meio da rua e foi com surpresa que reconheceu a Praça da Aclamação.

Lembrava-se vagamente de haver chegado a casa e do seu sofrimento.

Atirou uma cusparada a um canto e entrou