Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/153

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A negra coçou a cabeça e, encostando-se à cômoda, pensativa, disse baixinho, depois de um silêncio:

— Olhe, minh'ama, eu me lembrei de uma coisa... Tenho medo de falar por causa de nhonhô.

— Que é?

— Hum! para vosmecê ir dizer... Eu, não. Não quero história comigo.

— Eu sou criança, Felícia?

A negra ainda hesitou, mas aproximando-se da cama, cochichou em voz misteriosa:

— Minh'ama não se lembra do meu reumatismo?

— Sim.

— Vosmecê sabe que eu andei por aí tudo, na mão de uma porção de médicos, gastando os cabelos da cabeça, e nem para trás, nem para diante. Vosmecê sabe.

— Sim.

— Nem vosmecê é capaz de imaginar como foi que fiquei boa.

— Não.

— É, mas se eu disser vosmecê não acredita; é até capaz de pensar que estou maluca. Eu sei.

— Ora, Felícia...

— Vosmecê acredita?

— Não sei: fala.

— Pois foi com o espiritismo - sussurrou, curvada, d'olhos muito abertos.