Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/17

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sem levantar a cabeça: "Boa noite!" O Sampaio, vendo-o sair, perguntou com o charuto nos dentes:

— Então, já?

— É verdade. - E foi descendo lentamente.

No primeiro andar, numa sala escura dos fundos, o pessoal do correio cortava as listas da expedição e o Moraes, plantonista, gordo, pletórico, sempre empanzinado, que tinha fama nos clubes de ser um garfo respeitável, para não ficar só na redação, lá estava encostado à comprida mesa, roncando pilhérias com ânsias de asma e muita gosma.

Descendo mais alguns degraus, Paulo deteve-se, como sempre fazia para olhar um instante, através das grades, a oficina toda tomada pelos complicados maquinismos - desde as marinônis soberbas, juntas, como dois animais de raça, ocupando uma ala à parte, até os pequenos prelos de mão que uma criança movia.

O motor, ao fundo, com a chaminé esgalgada como um pescoço de girafa, furava o teto atravessado de longos eixos sobre os quais giravam polias movidas pelas correias, que eram como os nervos daquele possante organismo.

No meio da sala, ao rés-do-chão, dois cilindros brancos rodavam rapidamente ligados por uma larga faixa. Sobre um deles caía um estilicídio perene: eram os rolos de papel que, depois de umedecidos, deviam ser levados às marinônis