Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/219

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Olha, meu filho. como essa não achamos outra: não é uma criada, é uma amiga. Quanto mais vou conhecendo o mundo mais me afeiçôo à pobre velha. Outra fosse ela e andaria por aí a resmungar, de trombas, mas não: é sempre a mesma e pra tudo.

— É uma boa velha, isso é, concordou.

— Eu é que sei, que vivo com ela.

— Pois se quer o dinheiro...

— Não te faz falta?

— Não, senhora.

Abriu a gaveta, contou trinta mil-réis e, com o pacotinho em que tinha guardado os cento e cinqüenta e a cautela do broche, entregou-os à mãe. Ficou um instante parado a contemplar o dinheiro que reservara, mas teve um movimento de bondade: tomou uma nota de cinqüenta e deu-a à velha.

— Isto é para a senhora.

Ela abriu muito os olhos, espantada.

— Onde arranjaste? Foi o Fábio?

— O Fábio...! - Riu escarninho. - Que idéia! Recebi no jornal, - explicou, numa inspiração instantânea.

— Mas tu podes precisar, meu filho.

— Fico com o bastante, descanse.

— Olha lá!

— Ora, mamãe, eu faço cerimônias com a senhora?

— Está bom, obrigada. E que Deus te proteja.

— Amém!