Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/231

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ao fogão, enrolando a trunfa.

— Que história é essa, Felícia? Fizeste alguma promessa? Perguntou a rir.

— Não ria, nhonhô... Vosmecê é muito criança ainda, está começando a viver. Não ria, não.

— Mas que tens tu?

— Que é que eu tenho? Eu sei, meu senhor? Olhe, nhonhô, - explicou com mistério, chegando-se muito ao rapaz, para que ele lhe ouvisse bem as palavras: A gente está aqui e está lá. Não é a alma dos outros que vem, é da gente que vai. Quem morre descansa, quem está vivo é que vai mexer com os mortos. O cemitério é como uma casa de marimbondos: vosmecê passando quieto, os bichinhos não mordem, mas bulindo... - e curvou-se, arregalando muito os olhos, a fitar o rapaz. - Eu fui bulir... - concluiu, encolhendo os ombros com resignação.

— E os maribondos caíram em cima de ti.

— É, sim senhor.

Paulo não conteve o riso e, rindo, tornou à sala.

— Que tem ela? perguntou Dona Júlia.

— Disse que os mortos são como os maribondos. Foi bulir com eles e não a deixam.

Depois da saída de Paulo, Dona Júlia, que logo atinara com a causa da "maluquice" da negra, foi ter com ela e pôs-se a dar-lhe conselhos. "Que se deixasse de espiritismo. Não acreditasse naquelas comédias,