Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/242

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gente - um velho mascate, curvado ao peso da grande caixa; um vendedor de fósforos, com o tabuleiro suspenso à altura do ventre, coberto por um encerado; operários, com as ferramentas, e, à porta da venda, que comunicava com a larga entrada da estalagem, em túnel, havia um ajuntamento: homens de pé, outros sentados em pedras, fumando, conversando.

Fora, ao portão, um garoto apregoava os jornais da tarde. Cães morrinhentos dormitavam pelos cantos e, defronte, num sobradinho amarelo, uma mulher gorda, com fofos de renda à volta do pescoço, chupava roletes de cana, atirando o bagaço à rua.

Apesar da chuva insistente, Paulo adiantou-se para tornar o bonde mais em cima, receando que Mamede o encontrasse ali àquela hora. O bonde estava enlameado e, com o bater das cortinas, iam-lhe ao rosto friíssimos respingos.

Era cedo, talvez, para o jantar. Repentinamente um escrúpulo assaltou-o: "Não, não ia jantar à batota para que o não tomassem por um parasita; tinha dinheiro bastante para pagar-se um bom jantar, bem regado e silencioso".

Detestava as conversas da tavolagem: eram sempre os mesmos assuntos triviais - mulheres e sorte à banca, caprichos da roleta ou dos dados e fantasias de cocottes ou, então, a reles política, recapitulações de artigos de fundo, com os comentários imbecis dos críticos da Rua do Ouvidor.