Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/245

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A esperança refugiou-o no jogo. Súbito os dois rapazes apareceram, rindo, e era dele que riam - haviam-no avistado. Pagou e levantou-se impetuosamente, sem que os rapazes dessem pela sua fúria.

Fazia um frio de inverno e, com as refregas de vento, a chuva penetrava, gelada, borrifando as mesas mais próximas da porta. Ouvia-se o gorgorejo d'água, que golfava das gárgulas, formando enxurradas. Tílburis passavam à pressa; as goteiras rufavam nos guarda-chuvas.

O botequim enchia-se de gente, que entrava a correr, fugindo à borrasca - uns, limpando os casacos, metiam-se para o fundo, procurando lugar às mesas; outros ficavam pacientemente à porta, esperando uma estiada.

Paulo não se atrevia a sair e começava a impacientar-se, quando viu vir um menino, a correr, rente com a parede, a procurar abrigo. Chamou-o. O garoto levantou a cabeça e deteve-se, com a chuva a bater-lhe nas costas, a escorrer-lhe pelo rosto. Paulo ofereceu-lhe uma gorjeta, para que lhe fosse buscar um tílburi. O pequeno curvou-se, ganhou a rua de um salto, a correr, logo desaparecendo, abrumado pelo aguaceiro.

Um velho, que se acolhera junto à escada, murmurou, aborrecido: "Que tempo!" e logo outro, refugiado, achando ensejo para desabafo, pôs-se a vociferar contra a Prefeitura e os "senhores intendentes", que se abotoavam com o dinheiro