Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/247

Wikisource, a biblioteca livre

Para que homens? — Para que?!

— Sim, para que?

— Para endireitarem isto.

— Endireitarem... Homens temos nós de sobra. Quer o senhor saber que é que nos falta?

— É vergonha! é patriotismo...!

— Historias! o que nos falta é dinheiro. Os homens são os mesmos, os vicios são os mesinos, estamos como dantes. Houve apenas mudança de rotulo. Explodiu um «apoiado», e o da pêra repetiu: «É isso... houve apenas mudança de rotulo.» A algazarra crescia no fundo do botequim, ao tinir de copos, ao estourar de garrafas, e um bafio quente vinha de dentro, como de um enorme calorifero.

— Decididamente esta coisa não passa, disse o da pera, com impaciencia, e abrindo o guardachuva, despediu-se: «Boa noite, meus senhores!» e arrojou-se. Houve um surdo rufo e o homem lá se foi, a largas pernadas, muito esguio, como um cogumelo negro levado pela enxurrada. Um tilbury appareceu vagaroso, e parou diante do Carceller; pouco depois o garoto surgiu, cançado, com as roupas colladas ao corpo, desenhando-llie as formas mirradas.

— O tilbury está ahi, moço.

Paulo metteu-lhe uma nota na mão e, abrindo o guarda-chuva, em pontas de pés, aos saltos, atravessou o passeio alagado, ganhando o tilbury,