Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/26

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cama e fui ao quarto dela. Ah! Paulo, meu filho, nunca pensei que aquela menina fosse capaz de uma coisa assim."

O pranto abalou-a de novo, um pranto humilde, infeliz, cortado de gemidos. A negra, então, que se conservava à distância, calada, ousou continuar, e Paulo boquiaberto, esgazeado, levantou a cabeça e fitou nela os olhos.

— Ela nem se deitou: a cama está assim mesmo.

— E com quem foi?

— Quem sabe lá! - gemeu Dona Júlia - algum malvado.

— Eu bem dizia a mamãe que não desse tanta liberdade à Violante.

— Que havia eu de fazer? Ela é moça, todas as moças namoram. Nunca me passou pela cabeça que minha filha fosse capaz de dar um passo como esse. E agora, meu Deus! que há de ser dela?

Paulo, sem responder, ergueu-se, pôs-se a procurar alguma coisa pelos cantos, sobre os móveis. "Meu chapéu...!?"

A negra adiantou-se:

— Vosmecê está com ele na cabeça, nhonhô.

Com o vento da noite, que entrava d'esfuzio pelo corredor, a chama do gás zumbia, ruflava dobrando-se como a de um maçarico; bátegas de água ruflavam nos vidros. Paulo dobrou as calças e, surdamente, pôs-se a rilhar os dentes, curvado, com o pé sobre uma cadeira. Dona Júlia, ouvindo o