Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/268

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atirar beijos, perdendo-se, aos recuanços, por trás do pano que descia.

Paulo afastou-se caminhando para a larga escada dos camarotes e, já com o pé no primeiro degrau, hesitou pensativo. Estrugiram novas palmas recebendo um equilibrista famoso. "Que é ela, não há dúvida..." foi, escada acima, degrau a degrau, receoso, com o coração oprimido, imaginando escândalos: um ataque, uma desfeita ruidosa, uma gargalhada cínica. E a outra? Quem seria?

Uma rapariguita loura e fina, debruçada à balaustrada, cantarolava, alheia às palavras amuadas de um bonifrate de chapéu branco e polainas. Paulo passou pelo "arrufo" vexado, pisando de leve e, à medida que se aproximava do camarote, mais lhe cresciam os receios. Sentia as pernas frouxas, trêmulas, a boca seca e revoltava-se contra aquela covardia, reagindo, avançando sorrateiramente, a relancear as olhos pelos camarotes, vendo, pelas frestas, bustos graciosos, eretos, plumas petulantes, brilhos de jóias. Chegando ao camarote alvejado, dando com a porta largamente aberta, esteve para voltar.

Correu por todo o teatro o murmúrio de uma emoção malcontida, palmas isoladas vibraram, mas foram instantaneamente abafadas por psius! enérgicos e impôs-se súbito silêncio. Ele adiantou-se e, parando, ficou pregado ao soalho, a olhar, comovido e medroso.