Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/301

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Paulo, que se conservara calado, fumando, interveio.

— Se ela é feliz, que mais?

— Pois sim, mas eu penso em Deus.

— Deus... Bem se importa ele comigo.

Levantou-se.

Começava a sentir a melancolia daquele lar taciturno; aquele ambiente de tranqüilidade pesava-lhe, não era a seu elemento, sentia-se como sufocada. Fez menção de despedir-se, mas a mãe convidou-a a ver a casa. Cedeu submissa e seguiu-a olhando indiferente, sem curiosidade, com um sorriso artificial no rosto. Diante da quarto que lhe fora destinado houve maior demora: a velha levantou a vela, uma luz mais larga projetou-se.

— Este era o teu.

— Bem bom. A casa é pequena, mas muito cômoda. Muito melhor que a outra. E Felícia?

A negra preocupava-a. Queria ver a desgraça, sentir a miséria, contemplar a agonia.

— Deve estar na cozinha.

Paulo deu luz ao gás e avançou chamando a rapariga, aos berros. Não houve resposta.

— Ela, ás vezes, sai para a quintal, fica lá fora sentada, resmungando.

Paulo procurava. Uma senhora ergueu-se junto ao fogão e ficou imóvel. Violante adiantou-se e a negra esperou-a hostil.

— Ó Felícia! Como vai você? Então que é isso? Não me conhece mais?

A negra olhou-a