Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/341

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Fechando vagarosamente a janela, Ritinha tomou ao quarto e, indiferente ao transe lúgubre, inclinou-se ao ouvido de Paulo, que se sentara à cabeceira da cama e lentamente enxotava as moscas que teimavam em pousar no rosto da moribunda e sussurrou:

— Ele está ali defronte.

O rapaz encarou-a pálido, transido de medo, e, em voz surda, num sopro, perguntou:

— Onde?

— Venha ver. Eu não dizia?

Ele lançou um triste olhar à agonizante. O ruído estertoroso continuava rouco, e, de quando em quando, com o enrijamento túmido do pescoço, a cabeça derreava-se no travesseiro.

— Ela pode morrer.

— É um momento.

Ele passou ao seu quarto, vestiu-se ligeiramente e seguiu a mulata.

Segredavam, pisavam devagarinho, em pontas de pés. Ele entreabriu cautelosamente a janela e deu logo com o mulato junto ao cais, ao sol, guardando a casa.

— E agora?

— Eu não lhe dizia? Olhe, o melhor é eu ir-me embora.

Ele voltou-se de repelão:

— Por quê? isso não! Então és obrigada a viver com um homem de quem não gosta?

— Não vou viver com ele. Vou por aí.

— E se eu o chamasse?

— Para quê?

Sem uma idéia, acabrunhado