Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/355

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da defunta, os braços molemente atirados, gania estorcegando-se, aos surdos arquejos trágicos, chamando a mãe em altas vozes. Um homem apareceu à porta, pedindo licença, muito cortês. Todo de flanela clara, botinas brancas, gravata frouxa com as pontas soltas, esvoaçando: deteve-se cerimonioso.

Já as duas mulheres, com muita meiguice, procuravam arredar Violante, cujos gritos longos, percucientes, vibravam. Levaram-na em braços para o quarto do irmão, deitaram-na, afrouxaram-lhe as roupas. Ela debatia-se, esperneava, escabujava rolando, a rilhar os dentes com um ofego d'agonia.

O homem, perplexo, torcia nervosamente os bigodes; sentindo, porém, a porta abrir-se com o vento logo a fechou, receoso de que o vissem da rua e, mais calmo, dirigindo-se a Paulo que o rondava, suspirando e limpando lágrimas, perguntou com interesse:

— Como foi?

O rapaz, com a voz sacolejada, descreveu a morte, toda a agonia da infeliz, lamentando a grande perda, a sua solidão no mundo. De repente, porém, a um grito mais agudo da irmã, notando que o homem afligia-se, franqueou-lhe o quarto:

— Entre, sem cerimônia. Minha pobre mãe!... - e precedeu-o, afastou-se escancarando a porta.

O homem agradeceu e, chegando-se ao leito, inclinou-se sobre Violante, chamando-a. As duas mulheres arredaram-se e Mamede, muito solícito, impondo-