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Não trato do estado espiritual, e nem do que me disse relativamente ao Christianismo, porque deixo isso para o seo lugar proprio, mas quanto ao temporal muitas vezes o ouvi dizer aos seos similhantes, e especialmente aos Tabajares do Forte de São Luiz, «que os francezes eram fortes, que habitavam um paiz grande, abundante de boas comidas, de muito vinho, de pão, de boi, de carneiro, de galinhas, de muitas especies de ovos, e de grande variedade de peixes: que suas casas eram construidas de pedras, cercadas de grossos muros, onde estava assestada grossa artilharia, batendo o mar na base da muralha, ou então sendo esta circulada de fossos cheios d’agoa.

«Pelas ruas estão lojas de todos os generos. Andam a cavallo, e os Grandes, ou melhor os Principaes são acompanhados por muitas pessoas, como o Sr. de la Ravardiere, residente perto da cidade, onde cheguei.

«O Rei de França mora no centro do seo reino, n’uma cidade chamada Pariz. Os francezes aborrecem, como nós, os Peros, e lhes fazem guerra por terra e por mar, e sempre com vantagem, porque são fracos os Peros, valentes e animosos os francezes como nenhuma outra nação, e eis a razão porque não devemos temer aquelles visto estes nos defenderem. Alguns maldizentes de nossa gente espalharam não terem os francezes podido tomar os Camarapins, porem isto é falso. Cumpriram seo dever e si os Tupinambás tivessem querido ajudar-nos, seriam agarrados, porem o chefe dos franceses condoeo-se d’elles, e não quiz que todos fossem queimados como aconteceo em parte.»

Fez este e outros discursos similhantes, e depois percorrendo a Ilha, em cada aldeia os repetia nas reuniões na caza grande.

Procurando imitar a maneira porque entrou na grande praça de São Luiz, não só para saudar os Tabajaras, como tambem para ajudar os francezes, dispoz elle a sua gente, em numero de cem a cento e vinte, um a um, ou um atraz do outro, e assim por diante.