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especialmente no tempo das chuvas, são horriveis os trovões, parecendo abalar-se a terra, e um relampago dura mais do que dose na Europa.

Durante esse tempo não sahem de casa os selvagens, e nem o mais valente se atreve a pôr o nariz fóra da porta, e eu mesmo, sem ser dos mais timoratos, fartei-me de medo, embora ninguem visse a queda do raio.

Eis a razão.

Emquanto é brando o calor de Agosto á Fevereiro raras vezes ha trovões; mas quando surge a guerra do frio e do calor, que é de Fevereiro á Junho, então é necessario que appareçam escorvas e peças, isto é, raios e trovões.

N’este tempo reina o calor na zona tórrida com todo o seo vigor, e o frio então se fortifica pelo regresso do Sol de Capricornio para Cancer, cheio de humidades do ar, e por isso é grande o combate, mais frequentes os trovões, e mais medonhos os relampagos.

Não se descobre a queda dos raios porque são altas e vigorosas as arvores do Brazil, e ordinariamente é n’ellas, como acontece em toda a parte, onde cahem os raios.

Como é o paiz coberto de florestas, e repleto de arvores de admiravel altura, é bem facil cahir o raio desapercebidamente.

Prova-se isto todos os dias com arvores cahidas e queimadas, que se encontram nas florestas.