As que podem vôar buscam a região do ar, deixando suas casas, feitas e cavadas na terra.
As outras, si por instincto natural desconfiam, que podem as agoas invadir suas grutas, e estragar seos armazens, celleiros, ou dispensa, pegam na bagagem, com ordem digna de ser mencionada, e auxiliadas com a experiencia, como vou contar para servir de modello a todas as outras.
Na nossa casa de S. Francisco, no principio das chuvas um milhar de milhões de formigas sahio de uma caverna, perto d’ahi, e veio tomar posse de um canto do meo quarto, onde cavou camaras, ante-camaras e celleiros.
N’uma bella manhã sahiram todas, e trouxeram um alqueire, talvez, de ovos, indo em diversas estações, isto é, em distancia de 2 passos uma da outra.
Cada acervo trazia suas formigas em ordem, vindo descarregar cada uma o que trazia no montão proximo, e assim iam fazendo os outros acervos ou companhias.
Admirei-me de vêr tantas formigas, e tantos ovos, que deitavam mau cheiro.
Mandei fazer bom fogo, e atirar sobre estes ovos, e no caminho por onde passavam estes animaes.
Puzeram-se em alarme, e cada uma buscou salvar os ovos que poude, como fez Eneas á Anchises, seo pae na destruição de Troya.
Não fui tão bem succedido, porque regressaram ao lugar que haviam escolhido, não pensando talvez, que me incommodassem, o que assim não aconteceo, porque reunindo-se todas por espaço de 2 dias, deliberaram ir a pilhagem fóra do quarto, mostrando-se contentes com a habitação, que bem a meo pesar lhes dei.
Causar-vos-hia satisfação vendo estes animaesinhos, desde o amanhecer até ao anoitecer, fazer suas provisões, que são as folhas de uma certa arvore, em cujos ramos, como presenciei, estavam muitas para cortal-as e deixal-as cahir em terra, onde cada formiga pegava no que podia e levava para os armazens.